“Viva o Comunismo”, pichou o jovem Manoel numa estátua em
tempos de ditadura. Teria sido preso não fosse um livro que portava no momento em que fora capturado. O escrito
intitulava-se "Nossa Senhora de Minha Escuridão". Perdeu a única
cópia que tinha de seu primeiro livro em troca da liberdade. Bom gosto do policial
e um breve sopro do cárcere, barrado perante as primeiras palavras dispostas em
folhas em branco. A liberdade que ainda não lhe era de fundamental importância,
foi comprada pelo que portava de maior valor. Sua voz escrita. Mas se pudesse
trocar a palavra pela liberdade, o jovem estaria em apuros, afinal, esses
caminham lado a lado e de certa forma, se entrelaçam formando a poesia.
Manoel de Barros, jovem admirador de Luiz Carlos Prestes,
cresceu em um colégio interno, tomou gosto pelos livros entre as prateleiras da
biblioteca, mas descobriu a liberdade nas terras alagadas do Pantanal. Porém,
estes terrenos
foram renegados por um tempo, Manoel se recusou a morar na
fazenda com os pais e preferiu viajar. Conheceu Peru, Bolívia e Nova Iorque.
Entrou em contato com as pinturas de Picasso e Van Gogh. Encantou-se com a
liberdade dos artistas. Conheceu a obra de Chaplin e se apaixonou pelo jeito
desligado que o ator dava a seus personagens. A alma de poeta estava se
formando só lhe faltava um grande amor.
Conheceu uma jovem chamada Stella em sua volta ao Brasil. Casaram-se em
três meses.
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Manoel de Barros vive em sua fazenda em meio a natureza. |
Aos 97 anos ele continua escrevendo. O ritmo diminuiu, no
entanto a poesia marcada pela presença da natureza permanece inabalada. “Vagabundo
profissional”, é assim que se auto intitula, costuma dizer que a poesia é “a
mais verdadeira maneira séria de não dizer nada”. Sua paixão por poesias e pelo lugar em que vive inspira
outros poetas. Nascer à beira de um rio e
crescer em um colégio interno para depois conhecer a planície pantaneira e toda
a liberdade de viver segundo as leis da natureza fizeram brotar como uma árvore
a encantadora poesia de Manoel de Barros.
Em 2008 o poeta teve sua vida contada em um documentário
chamado “
Só dez por cento”. Houve muita recusa por parte do poeta, que não
gosta de falar sobre si, prefere ponderar sobre bichos. Após muitas tentativas
por parte da produção, o escritor afirmou que o ser biológico Manoel era
totalmente sem graça, que se concentrassem no ser letral, somente nos livros.
Afirmou também que sua arte só se expressava por escrito. Depois de muita insistência
a frase que fez Manoel de Barros voltar atrás foi: “...deixa para lá, era só um
sonho.” Assim a produção conseguiu algo inédito, a palavra oral de Manoel de
Barros.
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Capa do disco idealizado por Márcio Camillo. |
compositor que resolveu apresentar a poesia de Manoel de Barros para crianças
através da música. Juntamente com mais quinze crianças o projeto se
desenvolveu, virou disco e espetáculos aprovados pelo autor inspiração. Uma das poesias escolhidas,
Bem-te-vi, ganhou uma linda versão musicada. Hoje, o
projeto musical caminha de mãos dadas com o projeto
Crianceiras. E assim Manoel
de Barros vai eternizando sua forma simples de escrita e consolidando o valor
da natureza como um bem comum a todos os homens. A sua arte se funde com a liberdade
para ser vivida, cuidada, vista e apreciada como uma das mais belas poesias.