Há uma multidão que caminha
e vai na contra-mão do mundo
Que vê chuva quando faz sol
E faz sol nos dias cinzas
E ressurge dos restos de fogo
Queima a pele da vida presente
Que se presta ao passado no tempo real
Dos sonhos a cor
Que encobre as tardes
Das viagens de trem pelos campos de ontem
No relógio são 03:00h da manhã
Amanhã será domingo a memória se apagará
Na verdade os dias não contam
Tornam-se inúteis relógio, domingo e verdade.
Aquela realidade de cada um
E de um por um se vai ao chão
Como as estrelas que caem e nunca chegam ao solo
Vão no infinito
O quão triste é o peso do sem fim
Esse que todos desejam como presente
Entretanto, posto que é o campo nulo
Não satisfaz, não abriga
Apenas distrai por meio do tédio
O tédio que é o fim
Mas há uma multidão que persiste
se embriaga e enterra os pés na areia
Mansa e rouca a voz que lhe palpita o coração
Não sabe aonde ir
Como na música que compara luas
Decerto a de Ícaro tem mais poesia que a de Galileu
Justamente por ser infinita
E por libertar os amantes o voo da alma.
Todos sabem o que houve com Ícaro
E todos desconfiamos do nosso fim
Assim sendo, buscamos o infinito por ingenuidade
Ou por desejo de mudança dessa história já escrita
Tolos, caminhamos na contramão
Felizes até descobrirmos que a gravidade da lua recebe visita de militares
E que os bailarinos e amantes apenas sonham
Afinal, sonhar é mais real do que a própria vida.
Confortar-nos-emos.