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quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Ladrilhos de sonho

Seus pés me levaram ao primeiro degrau da escadaria,
Meio desnorteado, ergui os olhos.
Vi um céu que não era meu,
Nem era do meu lugar,
Tampouco de meu país.
Fraquejei pelo caminho.
Num bambear de pernas que se assemelhava
Ao tango viajante pelo céu da Patagônia.
Vi um azul que não era meu.
Guiado pelo retorcer do tempo, saltei.
Cai noutro céu, tumultuado de cores. Confetes no ar, balões da Capadócia.
Calou-me a voz, ergueu-me o ser.
Elevando-me até o último resquício de sol do
Vasto, infindo, momentâneo e abstrato querer.
Foi-se o sol, foi-se a luz.
Mergulhei pr'onde furtavam-ve a cor,
Lugar no qual nem as estrelas
Com seu brilho roubado,
Opaco ou não, queriam chegar.
Imensidão do escuro de mim.
Escuro do mundo,
Minha cidade,
Meu céu,
Meu eu.
Possessivo
Indutivo
Solícito
Imensa escuridão.
Disseram-me, em semitom, que os santos ajudam.
Os santos e as estrelas de tal forma enxergariam aqui?
Anjos tocam minhas mãos e eu dou graças.
E sigo daqui, de mãos dadas,
Buscando o céu que não é meu,
Na estrada que não é minha,
Mas cochichou, que eu ouvi.
Como vespas dançarinas.
-Prometo o fim da estrada. O resto.
(Para um anjo ruivo)


segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Desafinados

Num canto do mundo,
Submerge a paz vinda
Do mais profundo e desabitado azul.
Não seria chuva,
Suposto que ela despenca do alto
E seus pés não acariciariam nada
Além de terra seca e inóspita.
Não se assemelha a um rio,
Que deságua.
Apenas existe,
Como uma poça.
Mas poça também não é.
Não há espelho d'água,
Apenas um abismo que não supõe abismo,
Visto que todos eles terminam em algum
Lugar, num vale, nas flores,
No nada.
Pela faixa branca,
Envolta daquele azul - que não é a paz-
Escaldam os pés, que voam,
Mas não se quebram em asas.
Saltitam.
À deriva, visto do alto, o barco rema,
Metaforicamente corajoso.
Um pássaro risca o céu
Numa tentativa de subverter o que é alma.
Mas, com razão, o que vem a ser alma?
Aquilo que paira?
O estar quando não estamos?
E se estamos, é morada de mãe mandona?
E se manda, contempla a razão.
Risível vem a ser a graça da alma perdida ter razão.

sábado, 13 de junho de 2015

A insustentável

O vento assovia uma canção
que fala sobre o amor que é tão
leve quanto o seu imperceptível
dom de enfeitar os dias ruins.

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Erick pulou um parágrafo


De pés descalços, perdido
Como personagem de livro
Pulou um capítulo e caiu nesse mundo
Entende que a vida
Às vezes duvida desse raso profundo
Entre meias palavras parece estar vivo
Não sabe a data,
Nem tão pouco a hora
Não se importa com a volta,
Dispensa escolta e o fim da história
Se molha na chuva, não tem medo do escuro,
Entre um assovio e um riso
Parece escolher os segundos
Que regem o futuro
Mas já sabe que tudo é só um desvio
Não mente pra si, sabe onde está a amarra das correntes
Bate as mãos pra espantar a tristeza,
Embriaga e vaga no doce da  esperteza
Vai girar sem saber
E só sabe o que sente
Alma perdida num mar de maldade
Não sabe da metade do mal desse mundo
É fim sem meio, coração sem gente
E não há nem começo
Do fim desse livro
Mas não vê nem um mal,
Nem crime confesso
Em voltar por igual
Ao mundo dos vivos.

terça-feira, 9 de junho de 2015

Supernova


Quando chegar, vem feito sereno
Como quem quer apenas
Um lugar pra sentar e ouvir música
Chega como quem usa fones de ouvido
Numa praça movimentada
Ali sentado, vendo o movimento.
Pensamento longe.
Seguindo tudo com os olhos.
Vem como o pôr do sol que quando
A gente se dá conta, já aconteceu.
Ou feito sorvete nos dias quentes.
Alivia, dá aquela sensação de que
A partir dali  tudo estará melhor.
Talvez como fruta doce e a primeira mordida.
Quando chegar, pisa brando igual
A quem tenta calar os passos em folhas secas.
Como quem empurra, de surpresa,
O balanço da criança no parque
Procura a simplicidade
Aquela de observar os pés que vão
E vem pelo mesmo caminho
Seja terno como quem
Escuta histórias de amor,
Mas venha com vontade,
Como quem quer viver uma.
Guarde rascunhos de poemas,
Pedaços secos de girassóis,
Bilhetes de cinema,
Uma foto no parque, areia da praia,
Uma carta com cheiro.
Guarde datas.
Resgate a infância, a sensibilidade, a doçura.
Dance e cante, mesmo sem saber fazer nenhum dos dois. 
Grite para o mundo e, finalmente, liberte a alma.
Então será recebido com o melhor dos sentimentos,
Aquele que acontece antes mesmo de tudo acontecer.
Assim, tão doce, tão leve, real, tão amor.

domingo, 7 de junho de 2015

DesEncontros

Mais uma xícara quente de café, vazia
Para não tornar morno mais um dia
Onde há luz, o sol alcança os dois
Escorre no rosto um riso quase contido
Brinca no canto da boca a brisa de domingo.
Deita aqui, esquece aquela história de depois...
Encontros são feitos de cheiro, toque, audição... ?
Encontros são feitos de risos, de sorte ou de encontro, não?
Superam, inebriam, decaem.
O café esfria e a fumaça cansa, mas resiste.
As mãos se tocam feito fotografia  pra quem assiste
Alguém julgou que a brisa é vendaval?
A quem devo explicar que o desencontro foi muito bom?
Que dançamos juntos e que rimos docemente, alcançando o mesmo tom?
Estamos dançando nas pedras, a gente faz nosso próprio festival
E cantamos como loucos a música do velho vinil
Como se a voz alcançasse o tom aonde não chega o vazio.

(Olha, só! Não chora amor, existe um mundo que é nosso)

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

De papel, sonhos e vento


Corria a vida como não iria correr a água ali parada.
Lembrança de doces manhãs em que o calor do sol fervia sobre nossas cabeças,
Mas quem se importava?
Éramos felizes.
Ia-se o barquinho de papel sobre o espelho d'água.
Despedia-se de vaidade e lembranças,
Mas quem se importava?
Éramos doces.
Havia um cheiro que era bom
Era de paz, era de sonhos.
E o tempo passava manso como as nuvens do céu,
Mas quem se importava?
Era fim de ano.
Sentados à beira do lago... respirando fundo, sentindo o vento,
Mas quem se importava?
Os barquinhos de papel seguiam seu rumo.
Hoje, no fundo do lago, talvez habitem guardando nossas memórias,
Mas quem se importa?
Mergulhe e traga-os de volta.