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domingo, 24 de abril de 2016

Conto diário

Cotidiano
Conte -me as vinte e quatro horas dos dias do ano
De todos os dias os segundos
E da terra os giros do sopro do mundo
Janelas fechadas e o tempo  pedindo para passar
No céu de laranja talhada em curvas no ar
Meio turva nos arranha-céus
A luz que brilha não tem alma
E a alma está perdida, dentro das janelas fechadas
Como o sinal que te diz para aguardar
Enquanto a vida passa sem calma
O mundo não se dispõe a parar
O tempo torna relativa a existência
La no topo do céu as linhas retas e perpendiculares
Não se tocam, assim como não se tocam os olhares
Não se falam, assim como as bocas e a vaidade
E como santos julgamos loucas
As pessoas de verdade.
Por detrás da sua cortina há um muro
E logo depois o céu escuro
E em seguida a vida
Junto a ti o sol corre
E segue a rotina
Enquanto você fica olhando a cortina
Que te olha enquanto você morre.


quarta-feira, 20 de abril de 2016

Abril

O senhor vento carregou as folhas do mês de abril
Derramou-as entre as frestas da calçada
Embaralhou os galhos das árvores
E levitou melodias da canção de longe
Respira, ouve, canta, anda.
Anda, canta, ouve, respira
Não conheço tão bem o mês de abril
Não temos nenhuma intimidade
Ele sempre vem e passa, não marca e não me lembra nada
Pedrinhas do calçamento
Vocês sabem o que é o amor
Num dia incomum do mês de abril?
É como as folhas presas entre suas frestas
Precisam ser percebidos
As folhas e o amor
Respira, ouve, canta, anda.
Anda, canta, ouve, respira
É mês de abril.


sábado, 9 de abril de 2016

Canção da chuva em nós

Fomos nós, na solidão da noite, saltimbancos no silêncio da cidade?
Mereceu, quem não fugiu, receber o reflexo da verdade?
Mais vaga ilusão essa sua de se proteger do que te faz bem.
Quem, na escuridão da noite, corre da chuva,
Merece a paz que a chuva tem?
Que percorre os teus cílios, e dança nos teus lábios e morre na tua mão
Menino, a chuva só faz bem
Canta tua doçura, entoa tuas notas, faz tua canção
Que ela, a chuva, melancolicamente, vem.
Guarda tudo, protege o que não é puro
Tudo que não merece a chuva,
A tua voz, o teu dom, protege-os do escuro
Deixa do lado de fora, a alma, o querer e o agora
Fecha teus olhos e sente
Que algo ficou no ar, percebe o gosto da chuva na gente
Que percorreu teu rosto, que molhou tua boca
Que bagunçou teu vinho
E desfaleceu no momento, catando recordações em valsa de redemoinho.
Onde se refletem as luzes da cidade?
Que te olha quase dormindo e acorda sorrindo só pra fazer tua vontade
Quem, de sobressalto, desperta e te ouve cantar?
O que reflete o lado de fora da gente
E se banha na chuva e se equilibra no ar
Se embriagar da paz
Que é estar bem e que bem é estar.