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terça-feira, 16 de maio de 2017

Varanda de si

Há tempos não caminho em mim
Pelo chão, folhas secas, algumas amareladas,
Cansadas de tentar sem conseguir
Há quanto tempo não me embriago de mim?
Cresce, nas paredes, um verde musgo
Um morfo tímido, cheio de marcas de tanto sentir
Devo sentar, tomar um café com torradas
Ou, talvez, devo ficar, tentar tirar a poeira
Dançar no fogo da lareira de mágoas passadas
Não tenho muita noção do que me dar de presente
Talvez o vento, o mar, o apagar de rancor
Não me reconheço depois de tudo
Não sei ao fundo, nem ao certo,
O que, de perto, seria amor
A varanda parece castigada,
Sobrevive lá fora, envolta em pedregulhos
Da janela se pode ver
Visitas ciganas, donas do agora
Que como rios rasos, correm pro nada, por drama ou acaso e me soterram de entulhos
Resta abrir as janelas
Limpar a poeira, acender a lareira
Ferver um chá, cobrir o chão com um tapete:
“Bem-vindo”
Reconhecer a mim mesma, debaixo da poeira
Ouvir um velho tango que cante uma tragédia
Embriagar-me do meu melhor vinho
Até que essa dança, bambeando as pernas
Sorrindo sem causa, transforme-se em comédia.