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sexta-feira, 24 de junho de 2016

Amores bordados

As mulheres, à beira da praia, arrastam suas saias bordadas,
Entre passos, sussuros e esperanças.
O silêncio da noite cai, nativo e manso
Encobertas pela espuma das marés
As pedras, por sua vez, imóveis, palpitam.
Sinto um pé de vento e uma onda modesta,
Encontro olhos que buscam a linha que traça a vista.
E as luzes do vilarejo se esvaem
Pelo efeito da maresia que as cortam.
Ali, nada anseiam e tudo transpassam.
Da noite brotam os barcos atordoados,
Velas abaixo, nomes cravados.
A eles nada abala, a não ser o gosto do mar,
Que se mata no limite de um encontro invisível
E me profere onde acaba o céu e inicia o espelho d’água.
Trago a leveza do sentir
Enquanto tragas o medo de imergir.
Mulheres tecem histórias de
Algum mundo depois do oceano.
Lenços bordados conversam.
Falam mais alto do que o sussurro do vento.
E o mar as devolve, por pena,
Os amores que embacaram para além.
Pois todos os amores são do mar
E o mar fecha os olhos, por medo de ser de alguém.