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quinta-feira, 5 de maio de 2016

A febre pela metade

Sinto  febre
Por todo o corpo
Cuspida da alma, lançada aos olhos
Não ameniza com lençol
Nem abrasiva as torrentes
Do vento de fora
Do morno inquieto
Entorpece a mente
Que permanece calada
De um lado o mundo doente como eu
Ou, diriam os pessimistas, pior
No fundo os sonhos recorrentes da alucinação
De embriagar-se de febre
De morrer-me por mim
E de estar em brasas pelas mazelas do mundo
Minha alma em chamas pouco importa
Pouco importa também a sede
Os lábios cortados
As mãos ásperas
Se de mim não importa nada
Do nada me importa menos
Em razão de ser inteira,
Não me importa as metades.
Nem a febre, nem a alma, nem a existência.

segunda-feira, 2 de maio de 2016

Adeus abril

O calor é reagente da alma
Mas não de qualquer alma
Das boas almas
Daquelas que te fazem pedir para estar perto
Não sei o segredo do tempo
Como quando um alimento não mais serve
Depois da meia noite, após o prazo de validade
O  tempo, aquele que consome a importância
Dos seus atos
Ele cruza como flecha cortante e venenosa
As coisas, vontades e desejos.
Mas certas vezes, ele para e assiste.
E ele  fechou os olhos quando te viu sorrir
Em seguida, se  dedicou a examinar minuciosamente
A expressão no teu rosto
E definitivamente parou para ouvir tua respiração
Ele sentiu o calor que vinha dela
E o tempo simplesmente morreu
Quando sentiu o gosto bom que o teu gosto tem
Pensou por algum tempo nas voltas dos ponteiros
E agora o tempo estuda uma forma de fazê-los voltarem
Para repetir cada movimento, cada cheiro, cada toque
O tempo não tem costume de voltar
Apenas devora os instantes e segue em frente
Mas  o tempo me contou um segredo
E eu te garanto, por você, o tempo voltaria.
Um tempo sobrou no final do mês
E ele continuou acrescentando milésimos de segundos
Até fazer com que o começo do novo mês
Se confundisse com a existência de abril.